Esquizofrenia: Causas, Prevalência e Tratamentos Atuais
Esquizofrenia
6/29/20254 min ler
Introdução
A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais complexos e desafiadores enfrentados tanto pela medicina quanto pela psicologia. Caracterizada por uma série de sintomas que afetam o pensamento, a percepção, as emoções e o comportamento, essa condição pode impactar significativamente a qualidade de vida das pessoas que dela sofrem, bem como de seus familiares e cuidadores.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023), a esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo uma das principais causas de incapacidade global. Apesar de seu impacto, ainda há muitos mitos e equívocos sobre a doença, o que reforça a importância de disseminar informações corretas e baseadas em evidências científicas.
Neste artigo, exploraremos as principais causas , a prevalência e os tratamentos atualmente disponíveis para a esquizofrenia, com base na literatura científica mais recente.
O Que é Esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno mental grave classificado entre os "transtornos psicóticos" no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5; APA, 2013). Entre os sintomas mais comuns estão:
Delírios (crenças falsas firmemente mantidas apesar de evidências contrárias);
Alucinações (percepção sensorial sem estímulo externo real, geralmente auditivas);
Pensamento desorganizado ;
Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico ;
Sintomas negativos , como redução da expressão emocional ou da motivação.
Para o diagnóstico, esses sintomas devem estar presentes por pelo menos seis meses, com comprometimento funcional significativo (APA, 2013).
Principais Causas da Esquizofrenia
Embora a causa exata da esquizofrenia ainda não seja completamente compreendida, sabe-se que se trata de um transtorno multifatorial, resultante da interação entre fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais.
Fatores Genéticos
Estudos indicam que a hereditariedade desempenha um papel importante. Indivíduos com parentes de primeiro grau diagnosticados com esquizofrenia têm um risco até 10 vezes maior de desenvolvê-la (Gottesman, 2001). Além disso, pesquisas genômicas associaram mutações em genes específicos — como DISC1 , NRG1 e COMT — a alterações no desenvolvimento cerebral que podem contribuir para a doença (Insel, 2010).
Fatores Neurobiológicos
Alterações estruturais e funcionais no cérebro também são frequentemente observadas em pessoas com esquizofrenia. Isso inclui redução de volume em certas áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal e o hipocampo, além de desequilíbrios nos neurotransmissores dopamina e glutamato (Howes & Kapur, 2009).
Fatores Ambientais
Fatores ambientais podem atuar como gatilhos ou potencializadores da doença em indivíduos geneticamente vulneráveis. Exemplos incluem:
Exposição pré-natal a vírus ou nutrição inadequada;
Complicações durante o parto;
Uso de substâncias psicoativas, especialmente canabinoides, na adolescência;
Traumas na infância e isolamento social (McGrath et al., 2016).
Prevalência da Esquizofrenia
A esquizofrenia tem uma prevalência global estimada em aproximadamente 0,3% a 0,7% da população mundial (van Os & Kapur, 2009). Aparece tipicamente na adolescência tardia ou início da idade adulta, embora possa surgir em qualquer fase da vida.
Não há diferença significativa de incidência entre homens e mulheres, embora os homens tendam a apresentar sintomas mais cedo e com maior gravidade (Castle et al., 1991). Em termos geográficos, a doença ocorre em todas as culturas e classes sociais, sugerindo um padrão universal.
Tratamentos Disponíveis
O tratamento da esquizofrenia é multidisciplinar e visa reduzir os sintomas, prevenir recorrências e promover a reinserção social e funcional do paciente.
Medicamentos Antipsicóticos
Os antipsicóticos são o pilar do tratamento farmacológico. Dividem-se em:
Antipsicóticos típicos (de primeira geração) – como haloperidol – eficazes contra sintomas positivos, mas com maior risco de efeitos colaterais extrapiramidais.
Antipsicóticos atípicos (de segunda geração) – como risperidona, olanzapina e clozapina – mais bem tolerados e eficazes também contra sintomas negativos e cognitivos (Leucht et al., 2013).
A escolha do medicamento deve ser individualizada, considerando perfil clínico, resposta e tolerabilidade.
Psicoterapia e Intervenções Psicológicas
A terapia psicológica complementa o tratamento medicamentoso. As abordagens mais eficazes incluem:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – ajuda o paciente a identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos;
Reabilitação psicossocial – auxilia na reintegração ao trabalho, estudo e vida social;
Terapia familiar – apoia os familiares no manejo da doença e reduz o estresse relacionado ao cuidado (Pilling et al., 2002).
Internação e Crises
Em situações de crise aguda, quando há risco de automutilação ou violência, a internação hospitalar pode ser necessária. O objetivo é estabilizar o quadro e planejar a continuidade do cuidado após a alta.
Conclusão
A esquizofrenia é um transtorno complexo, mas tratável. Com diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo, muitas pessoas conseguem levar vidas plenas e produtivas. É fundamental combater o estigma e promover uma compreensão mais humana e científica da doença.
Como profissionais da saúde mental, cabe a nós oferecer informação de qualidade, acolhimento e suporte às pessoas afetadas e suas famílias. A ciência avança constantemente, e com ela, aumenta a esperança de melhores prognósticos para quem vive com esquizofrenia.
Referências Bibliográficas
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