Relacionamentos Interpessoais: Compreendendo a Codependência, o Ciúme e Estratégias de Enfrentamento

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Sérgio Araujo/Neuropsicólogo

6/29/20252 min ler

Os relacionamentos interpessoais exercem papel fundamental no desenvolvimento emocional e psicológico dos indivíduos. Quando equilibrados, podem promover bem-estar, apoio mútuo e crescimento pessoal. No entanto, certos padrões relacionais, como a codependência emocional e o ciúme excessivo, podem comprometer a saúde mental e a autonomia dos envolvidos.

Codependência Emocional

A codependência caracteriza-se por um padrão de relacionamento no qual uma pessoa passa a depender excessivamente da outra para validação emocional, autoestima e sentido de identidade. Embora o DSM-5 (APA, 2013) não reconheça a codependência como um transtorno formal, seus aspectos estão frequentemente associados a traços de transtorno de personalidade dependente (TPD), que envolve:

  • Dificuldade em tomar decisões sem conselho ou reafirmação alheia;

  • Necessidade excessiva de ser cuidado;

  • Medo intenso de abandono;

  • Submissão e comportamento de busca por aprovação, mesmo em contextos prejudiciais.

A codependência pode surgir em vínculos familiares, amorosos ou de amizade, sendo comum em relações em que há histórico de abuso, negligência emocional ou dependência química. Em geral, os indivíduos codependentes negligenciam suas próprias necessidades para manter o vínculo a qualquer custo.

Ciúmes Patológicos

O ciúme, em níveis moderados, é uma emoção humana comum e pode refletir apego e desejo de preservar o vínculo. No entanto, quando se torna persistente, intenso e irracional, passa a configurar um comportamento disfuncional, com impacto negativo no relacionamento.

De acordo com o DSM-5, o ciúme patológico pode estar presente em quadros de transtorno delirante, tipo ciumento (297.1), em que o indivíduo acredita firmemente na infidelidade do parceiro(a) sem evidência concreta. Também pode estar associado a traços obsessivos, ansiosos e de personalidade borderline.

Sintomas recorrentes incluem:

  • Vigilância constante;

  • Controle excessivo do parceiro(a);

  • Reações desproporcionais a interações sociais do outro;

  • Perda de confiança e autoestima.

Esses comportamentos tendem a gerar conflitos, rupturas, insegurança e sofrimento mútuo.

Estratégias Terapêuticas e de Enfrentamento

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem amplamente eficaz no tratamento de padrões relacionais disfuncionais. Dentre as estratégias mais utilizadas, destacam-se:

  • Reestruturação Cognitiva: Identificação e modificação de crenças disfuncionais sobre si mesmo e o outro (ex.: “não sou digno de amor se não for indispensável para o outro”).

  • Treinamento de Habilidades Sociais: Desenvolvimento de comunicação assertiva, empatia e autonomia emocional.

  • Psicoeducação: Orientação sobre o funcionamento dos relacionamentos saudáveis e limites emocionais.

  • Terapia de Casal ou Familiar: Em casos indicados, pode ser útil para reconfigurar padrões de interação e fortalecer o vínculo.

Promover a construção de relações baseadas na confiança, reciprocidade e respeito mútuo é essencial para a saúde mental e emocional.

Referências Bibliográficas:

  • American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5ª ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.

  • Beck, J. S. (2013). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed.

  • Norwood, R. (1993). Mulheres que Amam Demais. Rio de Janeiro: Editora Record.

  • Johnson, S. M. (2004). A Terapia do Amor: Criando Conexões com a Psicologia do Apego. São Paulo: Cultrix.

  • Kernberg, O. F. (2005). Transtornos Severos da Personalidade. Artmed.